Acompanhe os passos de Nossa Senhora e São José até o local onde Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu

26-12-2011 09:10

NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

 

Chegada a Belém. Maria Santíssima e São José não encontram pousada

Maria Santíssima e São José chegaram à cidade de Belém, no quinto dia de viagem desde de Nazaré. Eram quatro horas da tarde, sábado, num dia inverno, quando àquela hora já se põe o sol e se aproxima a noite.

Entraram na cidade procurando pousada. Percorreram muitas ruas em busca não só de hotéis, mas também de casas de conhecidos e de parentes mais próximos. Ninguém os recebeu, e por muitos foram despedidos com grosseria e desprezo.

Prosseguiram a honestíssima Rainha e seu Esposo, batendo de casa em casa e de porta em porta, entre o tumulto da multidão.

Não ignorava a Senhora que os corações e as casas dos homens estariam fechados para eles. Não obstante, para obedecer a São José, quis sofrer aquele vexame. Para seu recato, estado e idade, o sacrifício daquela andança foi mais penoso do que não encontrar hospedagem.

Passando pela casa do registro público inscreveram-se, pagaram o imposto e a contribuição do tributo real, e assim ficaram livres desta preocupação e de precisar voltar ao registro.

Prosseguiram em busca de pouso. Havendo procurado em mais de cinqüenta casas, em nenhuma foram acolhidos. Admiravam-se os espíritos angélicos dos altíssimos mistérios do Senhor, da paciência e da mansidão de sua virgem Mãe, e da insensível dureza dos homens. Nesta admiração bendiziam ao Altíssimo em suas obras e ocultos desígnios que, desde aquele dia, exaltava a tanta glória a humildade e pobreza desprezadas pelos mortais.

 

Dirigem-se para a Gruta

Eram nove da noite quando o fidelíssimo José, cheio de amargura e íntima dor, voltou-se para sua prudentíssima esposa, e lhe disse:

Minha dulcíssima Senhora, meu coração desfalece de dor vendo que não vos posso acomodar não só como Vós mereceis e meu afeto deseja, mas nem com o abrigo e descanso que, raras vezes ou nunca se recusa ainda ao mais pobre e desprezado do mundo. Sem dúvida há mistério nesta permissão do Céu, que não se movam os corações dos homens para nos receberem em suas casas. Lembro-me, Senhora, que fora dos muros da cidade existe uma gruta que costuma servir de albergue aos pastores e seu gado. Vamos até lá, e se, por felicidade, estiver desocupada, tereis algum amparo do céu quando nos falta o da terra.

Respondeu-lhe a prudentíssima Virgem:

Meu esposo e Senhor, não se aflija vosso coração por não se realizarem os ardentes desejos de vosso afeto pelo Senhor. Já que o tenho em minhas entranhas, suplico-vos, por seu amor, que lhe agradeçamos suas disposições. O lugar de que me falais será muito de acordo com meu desejo. Mudem-se vossas lágrimas em alegria pelo amor e posse da pobreza, que é o rico e inestimável tesouro de meu Filho santíssimo. Ele vem dos céus procurá-lo, preparemo-lo com júbilo da alma, pois a minha não tem outro consolo, e o mesmo possa eu receber de vós. Vamos contentes onde o Senhor nos conduz.

Os anjos encaminharam os divinos Esposos para lá, servindo-lhes de luminosas tochas, e chegando à gruta encontraram-na desocupada.

Cheios de celestial consolo, louvaram ao Senhor por este beneficio.

 

A gruta, primeiro templo de Cristo na terra

O palácio que o supremo Rei dos reis e Senhor dos senhores tinha preparado para hospedar no mundo seu eterno Filho, feito homem, para o bem dos homens, era a mais pobre e humilde gruta. Ali Maria Santíssima e São José se retiraram, despedidos que foram das hospedagens e da natural piedade dos homens.

Era este lugar tão desprezível que, estando a cidade de Belém repleta de forasteiros e com insuficiente alojamento, ninguém se dignou procurá-lo e muito menos nele se abrigar. Realmente, ele só convinha e ficava bem aos mestres da humildade e pobreza, Cristo, nosso bem, e sua Mãe puríssima. Através dos acontecimentos, reservou-o para Eles a sabedoria do eterno Pai. Ornado com a simplicidade, solidão e pobreza, consagrou-o primeiro templo da luz e casa do verdadeiro sol de justiça. Para os retos de coração, nasceria da cândida aurora Maria, no meio das trevas da noite, símbolo das trevas do pecado, que cobriam o mundo todo.

 

Maria Santíssima e São José agradecem a Deus

Entraram Maria Santíssima e São José neste alojamento. Com o resplendor dos dez mil anjos que os acompanhavam puderam facilmente ver que era pobre e desocupado, como o desejavam.

Com grande consolação e alegria, os dois santos Peregrinos ajoelharam-se louvando o Senhor e dando-lhe graças por aquele beneficio que, não ignoravam, era disposto pelos ocultos desígnios da eterna Sabedoria.

Este grande mistério foi mais compreendido pela divina princesa Maria Santíssima, pois ao santificar com seus pés aquela felicíssima choupanazinha, sentiu grande júbilo interior que a elevou e vivificou toda.

Era formada de pedras naturais e toscas sem nenhum acabamento, de tal modo que os homens julgaram-na conveniente apenas para estábulo de animais. O eterno Pai, entretanto, a destinara para abrigo e morada de seu próprio Filho.

 

Maria Santíssima, São José e os anjos limpam a gruta

O santo esposo São José, atento à majestade de sua divina Esposa, e que Ela parecia esquecer por amor à humildade, suplicou-lhe não se encarregasse daquele trabalho (limpeza do local) que a ele pertencia. Adiantando-se, começou a limpar o chão e os cantos da gruta, ainda que nem por isso deixou de o acompanhar a humildade Senhora.

Estando os santos anjos em forma humana visível, pareceu, a nosso modo de entender, que ficaram envergonhados de não participar naquela tão devota disputa de humildade. Imediatamente, em santa competição, ajudaram, ou para melhor dizer, em brevíssimo tempo limparam toda a gruta, deixando-a em ordem e cheia de fragrância.

São José acendeu fogo com o dispositivo que para isso levava, e, porque estava muito frio, aproximaram-se dele para se aquecer um pouco.

Com incomparável alegria espiritual cearam do lanche que levaram. A Rainha do céu e terra nada teria comido, se não fosse para obedecer a São José, pois aproximando-se o divino parto, achava-se toda absorta no mistério.

 

Precedentes do nascimento de Cristo, nosso Senhor

Declarou o Altíssimo à sua Virgem Mãe que chegara o momento de deixar seu virginal seio e aparecer no mundo, e o modo como isso seria realizado.

Conheceu a prudentíssima Senhora, numa visão, as razões e fins altíssimos de tão admiráveis obras, tanto da parte do Senhor, como do que se referia às criaturas, para as quais se ordenavam.

Prostrou-se ante o trono real da divindade, dando-lhe a glória, a magnificência, a ação de graças e louvores, que Ela e todas as criaturas deviam a Deus, por misericórdia e dignação tão inefáveis de seu imenso amor.

Ao mesmo tempo, pediu nova luz e graça para dignamente servir e educar o Verbo humanado que receberia nos braços e alimentaria com seu virginal leite.

Fez a divina Mãe esta súplica com profundíssima humildade, como quem entendia a grandeza de tão novo sacramento: criar e tratar como mãe a Deus feito homem. Julgava-se indigna de tal ofício, para cujo cumprimento seriam insuficientes os supremos serafins.

Prudente e humildemente o pensava e pesava a Mãe da Sabedoria: e porque se humilhou até o pó e se aniquilou na presença do Altíssimo, foi por Ele elevada e confirmada no título de Mãe sua.

Ordenou-lhe que, como legítima e verdadeira Mãe, exercesse esse oficio; que o tratasse como a Filho do eterno Pai e juntamente Filho de suas entranhas.

Tudo isto pôde ser confiado a tal Mãe. Mais, não é possível explicar com palavras.

 

Nascimento de Cristo, nosso Senhor

Esteve Maria Santíssima neste êxtase e visão beatífica, mais de uma hora imediata a seu divino parto. Ao mesmo tempo que voltava do êxtase, percebeu e viu que o corpo do Menino Deus movia-se em seu virginal seio, para deixar aquele sagrada habitação onde permanecera por nove meses.

Este movimento do Menino não produziu dores à Virgem Mãe, como acontece às demais filhas de Adão e Eva, em seus partos. Pelo contrário, transportou-a de júbilo incomparável, causando em sua alma e virginal corpo efeitos tão divinos e elevados que ultrapassam a todo pensamento criado.

Corporalmente tornou-se tão espiritualizada, formosa e refulgente que não parecia criatura humana e terrena. O rosto desprendia raios de luz como belíssimo e rosado sol; sua expressão era grave, de admirável majestade e inflamado de ardente amor.

Estava ajoelhada na manjedoura, os olhos elevados para o céu, as mãos juntas sobre o peito, o espírito absorto na divindade, toda deificada. Nesta posição, no final de seu êxtase, a eminentíssima Senhora deu ao mundo o Unigênito do Pai e seu, nosso Salvador Jesus, Deus e homem verdadeiro.

Era a meia-noite de um domingo, no ano 5.199 desde a criação do mundo, como ensina a Santa Igreja Romana.

Fonte: “Mística Cidade de Deus”, Soror Maria de Ágreda, Tomo II – Mosteiro Portaceli – Ano 2001